(Quero falar aqui sobre a MINHA experiência. Não quero entrar em discussão de que parto “é melhor”. Acredito que quem tem que escolher como quer que seu filho venha ao mundo é a mulher e que maternidade é no dia a dia, então esse MIMIMI de “não sou menos mãe” não cola, ok?)
Não tem como eu falar do parto da Nina sem comparar com o parto da Manuh.
Há 3 anos atrás, quando tive a Manuh, as informações sobre o parto natural ainda eram muito nebulosas. O documentário “O renascimento do parto” tinha acabado de entrar em cartaz e eram muitas informações completamente diferentes de tudo que já tinha escutado. Entendi, através desse filme, que eu estava caminhando,sem perceber, para uma cesárea desnecessária e fiquei apavorada.
Ao contrário de muita gente, eu tenho pavor à cirurgia. Minha mãe sofreu muito com esse tipo de parto e quase morreu. Acho que carrego isso comigo até hoje. Talvez essa tenha sido a minha referência!
Por isso, já na gestação da Manuh, rezava pra não ter que “ir pra faca”, mas não sabia que isso não dependia somente de mim.
O parto da Manuh foi muito sofrido. Tivemos (o Ti e eu) que lutar para ter o direito de ter um parto vaginal. Fui questionada a todo momento. Me tiraram comida, me colocaram medo (dizendo que eu ia matar a minha filha, pasmem), mas a pouca informação que a gente tinha na época já me liberou das estatística e consegui ter, pelo menos, um parto vaginal. (não é possível chamar aquilo de normal).
Mas ter minha filha nos braços, saudável foi mais importante que tudo. Então deixei isso de lado, até porque não havia nada que eu pudesse fazer a respeito a não ser estudar, me informar, pra se um dia eu engravidasse de novo, poder escolher. Minha única certeza na época era que se eu engravidasse novamente teria em qualquer lugar menos em um hospital.
E assim o tempo passou. Dois anos e pouco depois eu engravidei de novo. E agora? Mais de 2 anos pesquisando, me informando, preparando minha cabeça e meu corpo… Será que eu ia ter peito pra seguir em frente?
Parto é cultural e a nossa cultura é cesarista. Qualquer coisa que fuja dessa cultura, as pessoas acabam taxando de loucura. São Paulo tem o maior índice de cesárea do Brasil (que é o País com o maior índice do mundo!). São Paulo é também o Estado que gera mais dinheiro em relação a parto. Os médicos ganham muito bem e os convênios são coniventes.
Aqui perto, em Minas Gerais, essa cultura está em movimento. No Hospital Sofia Feldman, é possivel, através do SUS, a escolha por um parto domiciliar.
Aqui em São Paulo, pelo SUS, temos 2 casas de parto: Sapopemba e Casa Ângela. Elas ficam nos dois extremos da cidade: zona leste e zona sul, o que dificulta ainda mais pra quem, assim como eu, mora em outra região e não tem carro, rsrsrs.
Estou falando isso pra falar das opções que eu tinha.
Em princípio meu parto seria na Casa Ângela. Um lugar incrível e acolhedor com profissionais dedicadas e muito carinhosas. Sonhava com o domiciliar, mas não conhecia o “caminho das pedras”, até o dia que uma amiga minha de faculdade me falou da Commadre. Entramos em contato e foi amor à primeira vista.
Nos primeiros 20 minutos de consulta eu já tinha certeza que seria domiciliar. A equipe, composta por enfermeiras obstetras, obstetrizes, obstetra e pediatra me deixou absolutamente segura.
Começamos assim o planejamento: físico, emocional e psicológico.
Para o físico, pilates, caminhadas e no último mês o uso do epi-no.
Para o emocional, muita leitura sobre parto ativo, vídeos de parto e documentários sobre o tema e o plano de parto colocando todos os meus desejos no plano A e também me planejando para os planos B e C, caso fosse necessário.
Para o psicológico muita conversa, muita descoberta, muita conscientização e muita, muita, muita informação sobre fisiologia humana, rsrsrsrs.
Dia 18 de agosto comecei a sentir contrações. Leves. Uma cólica gostosinha. Não sabia dizer se era o inicio do TP ou contrações de treinamento. Estava com 39 semanas e 5 dias, ou seja, a possibilidade de ser TP era alta, hahaha!
Passei o dia com essas contrações. Mas ainda não tinha certeza se era o dia. Acho que só acreditei que era mesmo depois das 2:30 da manhã do dia 19 quando a fotógrafa Kelly Stein chegou de Indaiatuba (acreditem se quiser) pra fazer as fotos. Lembro que na hora que ela chegou eu pensei: “Gabriela do céu… é bom você estar em TP de verdade, porque essa mulher veio de outra cidade no meio da madrugada! É bom vc parir hoje mesmo” kkkkkkkkk.
A partir das 3 da manhã eu estava totalmente entregue à chamada PARTOLÂNDIA. Completamente voltada a mim. Acho que nesse momento todo o estudo que tive valeu a pena. Eu sabia exatamente o que estava acontecendo com o meu corpo. Eu estava completamente ciente da fisiologia e do passo a passo do parto. Então me entreguei!
me senti selvagem, humana, viva, presente. Me deparei com a minha sombra. Aceitei que somos luz e sombra…
Tive vontade de vocalizar todo esse sentimento, e assim o fiz. Eram gritos de dor (sim dói), mas principalmente de liberdade. Eu estava me libertando de todas as dúvidas, das incertezas e aprendendo a olhar o mundo de uma forma mais leve. Sim… toda essa transformação aconteceu alí. Entendi que a vida é mais simples, mais natural e que somos nós, seres humanos que temos a mania de complicar!
Nesse momento não via nada a minha volta. Estava completamente focada, entregue. Comecei a sentir vontade de fazer força, e sabia que a Nina estava chegando. Foi quando chegou a primeira obstetriz (a Gabi) que já se preparou pra receber a Nina!
Foram 2 contrações, seguidas de um grito: VEM NINAAAAA! E…
no dia 19 de agosto de 2016, as 6:05, com 39 semanas e 6 dias, Nina nasceu. Em casa. Com pouca luz. No silêncio suspenso seguido de risadas e muita felicidade.
Passada a euforia, era hora de focar novamente para o nascimento da placenta. Nina já estava no peito e rapidamente a placenta nasceu. A Karina e a Lu (enfermeiras obstetras que foram pegas de surpresa pela rapidez do parto, rsrsrsrs) estavam lá para o momento mais crítico de um PD: o pós parto. E foi tudo lindo… sem laceração, sem pontos, sem sangramento (aliás, sangrei muito pouco no parto!).
Nina ainda ficou um tempo ligada à placenta, esperando ela parar de pulsar e o Tiago cortou o cordão quando aconteceu.
A Dinda Keka que acompanhou toda a jornada, participou de consultas e estudou pra se sentir segura também no dia, fez a primeira troca de roupa.
E ficamos todas lá, na sala, sentindo o cheirinho de café que o Tiago estava passando. Conversando, trocando experiências, relembrando momentos. Uma papo de Commadre no melhor estilo!
Fui tomar banho no meu chuveiro e deitei na minha cama.
Depois de um tempo chegou a pediatra, que fez os primeiros exames (teste do olhinho, da linguinha), peso, medida e passou as primeiras diretrizes e recomendações.
E assim, elas foram indo embora. E o silêncio foi se instaurando. E o cansaço foi batendo. E eu dormi. Dormi com a certeza que fiz a melhor escolha da minha vida. Agradecida pela oportunidade de gerar outra vida, de ser mãe novamente, de parir. Feliz por ter tido minha escolha respeitada.
Não tenho palavras para agradecer à:
Equipe da Commadre por toda a assistência no pré-natal, no parto e principalmente no pós parto, com visitas e muita conversa.
Minha amiga e Doula mais que querida por ter me orientado em todo TP. Sem você as dores teriam me tirado o foco!
O olhar único e inspirador da fotógrafa Kelly Stein, que me apresentou esse mundo e me prometeu que quando chegasse o meu dia ela estaria presente!
Minha amiga e comadre Keka que acreditou,
E ao meu companheiro, amigo e pai das minhas filhas que me apoiou em todos os momentos, que com o seu olhar me mostrava o quanto eu era forte. Obrigada amor…
Bem vinda Nina! Bem vinda minha menina!
Esse mundo te recebeu com respeito, com amor e é só isso que ele vai pedir em troca!
“Para mudar o mundo, é preciso mudar a forma de nascer” Michel Odent
Nossa gabi, parabens, muito emocionada , tenho 3 filho de parto normal humaniza , mas hospitalar , pois gostaria muito de ter um parto domiciliar mais nao tinha as informações necessaria e a minha manu nasceu sem nenhuma intervenção mas foi num hospital , agora papai vez vasectomia ,
Gabi, vcs filmaram o parto? Se sim pretendem lançar no YouTube? Bjos me emocionei com seu relato! !
Eu vi o seu relato assim que saiu. Mas não podia deixar de vir aqui ler. Mais uma vez eu digo o que falei no YouTube. Este é o parto que eu quero ter, a minha ideia de parto, se alguma vez eu for mãe.
Gabi…estou sem palavras sem fôlego..se eu tivesse visto esse vídeo,ouvido esse relato tão emocionante tão lindo..com toda certeza teria ido até o final para ter minha filha no parto normal..você fala com uma clareza,convicção e de uma forma qe faz com que tudo fique mais claro ou até talvez mais fácil..com toda certeza se eu engravidar novamente não terei dúvida na hora de escolher o parto domiciliar..
Bom que a Nina cresça com saúde e muita alegria e luz no seu caminho.
Parabéns pela garra e coragem!!
Beijos
Gabi, obrigada por compartilhar sua experiência.
Tanto no canal, quanto aqui, transmite tanta verdade,tanta força que é impossível não ser tocada,não se emocionar.
Chorei. Que coisa mais linda esse relato, Gabi!
Que Deus abençoe e continue proporcionando a vocês muitos momentos cheios de luz como esse!
Nossa que texto lindo…sentimento puro
Tô mto emocionada…quero aeguir os seus passos, antes tinha o desejo hj preciso me informar melhor…bjao amo vcs familia!
Gabi, só uma correção, a casa de parto que vc cita no Sacomã, na verdade fica em Sapopemba ;).
Lindo relato!! Parir em casa é lindo realmente, é de um poder e transformação enormes! Bjos
corrigido!!!
Obrigada 😉
Quanta beleza nesse relato, Gabi! Inspirador e encorajador! Estou me preparando para o primeiro filho, mas ainda não nos sentimos seguros para tentarmos domiciliar, mas estamos nos informando muito e buscando por profissionais adequados para nós respeitar em ambiente hospitalar… Encantadora sua descrição! Que Deus permaneça abençoando
Vocês são incríveis, mas você Gabi, é surreal.. você nos passou um empoderamento Que nunca tinha visto em nenhum relato.. com muita força mas tb com muito amor! Obrigada, de coração! Continuem sempre da maneira que são, pois vocês são exemplos de dedicação e de pessoas de verdade .. beijos Gabi, vc é minha referencia de pessoa, mulher e de mãe, com toda certeza! ♥️♥️
Nossa, fiquei emocionada… muito obrigada!!
chorando que nem criança. que coisa mais LINDA!
<3
Armaria tem como ler esse relato sem sentir amor? Emoção à flor da pele Parabéns Gabi, parabéns a todos envolvidos.
Nina seja muito bem vinda pequena querida! ❤️